Campo Grande 22/04/2017
Olá Boa Noite!
Estou criando este blog para divulgar meu livro ainda não publicado "O Imigrante" que é a estória de meu pai que era grego e veio ao Brasil na década de 50 . Vem pelo governo brasileiro e se mete a muitas aventuras até chegar no estado de Mato Grosso hoje Mato Grosso do Sul onde fixa residencia em Aquidauana Portal do Pantanal.
Lógico que não poderia deixar de dar um enfoque à sua vida na Grécia onde consigo descrever um pouco da beleza grega, e seus costumes, assim como destacar a beleza do pantanal Sulmatogrossense típicas da região de Aquidauana com seus rios, fauna e belezas naturais.
Espero que gostem . Abraços!
HELENA KARAVASSILAKIS
O IMIGRANTE
FELICIDADE É TER ALGO O QUE FAZER, TER ALGO QUE AMAR E
ALGO QUE ESPERAR...
Estagira,
Calcídica, 384 a.C. - 322 a.C.)
CAMPO GRANDE – MATO
GROSSO DO SUL
2011
Dedicatória
Dedico este
livro com muito carinho, ao meu falecido pai, Vassilios Christos Karavassilakis
que muito nos honrou, não só a seus filhos, assim como a cidade onde nasceu Agrinio, na Grecia, junto a
família a que pertenceu. Ao meu tio
Dimitrios Karavassilis, que vivenciou ao
seu lado os fatos aqui relatados e me
ajudou lembrando algumas partes. Dedico
também à minha mãe Olga Rodrigues , meu
irmão Constantino, e principalmente ao meu marido Lucian , fiel e companheiro de todas as horas que
pacientemente me ouvia. E ainda aos meus padrinhos Assuncion Plá Esteves,
Fermin da Roca Martinez, Heliophar de Almeida Serra, Dirce Jordão Serra, que me
apoiaram e a todos os imigrantes que de uma forma ou outra tiveram coragem e
fizeram sua história em outros países.
O
IMIGRANTE
Capítulo
I
Não sou nem
ateniense, nem grego, mas sim um cidadão do mundo. Sócrates
TURQUIA – 1914 – Estreito de Dardanelos – 1a
Guerra Mundial.
Caia
a noite. O céu se iluminava pelo clarão dos canhões ensurdecedores, e as bombas
que se sucediam próximo à costa turca.
Os poucos
gregos que ainda restavam no estreito, ou eram mortos em perseguição pelos
turcos, ou feitos prisioneiros de guerra, tentando defender suas terras e
famílias. Tinham suas casas saqueadas e queimadas, seus animais mortos e todo o
seu cultivo exterminado pelo fogo. As crianças
corriam de um lado para o outro
ou choravam desesperadamente diante de
seus pais mortos. Nada restava-lhes, a não ser fugir ou procurar abrigo.
Um
casal abraçado a três crianças fugiam do
pequeno sítio onde moravam, na região de Smirna,
uma cidade do sudoeste da Turquia situada na região do mar Egeu. Corriam em
direção à praia pois os turcos, não
tardavam. Junto a eles Elias, um amigode muitos anos implorava-lhes:
-
Não voltem, pois os turcos não terão piedade se os encontrarem . – Aristos, o
pai das crianças agora estava somente preocupado em abrigar as crianças, não se
importando com a preocupação do amigo Elias. Bom amigo Elias! Mas não deixaria
tudo que conquistara com tanto esforço e trabalho através dos anos, na mão dos
turcos. Ah! Isso não.
- Elias,
agradeço a sua preocupação- disse ele-
mas preciso
voltar,
preciso defender minhas terras, é tudo que tenho. Cuide bem das crianças e olhe
por Katarina minha esposa.
Nisso, sua
esposa, o agarrou pelo braço, e parou dizendo:
- Aristos,
não deixarei que volte sozinho, irei com
você ! - Eles pararam de caminhar por um instante. Seu esposo deixou a
menina que carregava no chão, cansado e ofegante, já próximo à praia – Mas, e
as crianças...? Perguntou Aristos a sua esposa? Como os deixaremos? Ela então lhe
respondeu, e com ternura olhou
com carinho para o amigo de tantos anos, que os acompanhava.
- Elias
cuidará bem delas, tenho certeza, como se fossem
seus
filhos que não teve.
- Se abraçaram, com lágrimas nos olhos. Elias
não se continha
e
chorava também. Sabia que não os veria nunca mais. As crianças chorosas se despediam dos pais que
não suportavam a idéia de deixá-los, mas ambos sabiam que o
amigo zelaria por elas, morreria se fosse preciso.
- Aristos abraçou os meninos, pegou a pequena nos braços
mais
uma vez, e olhando- a dentro dos olhos disse-lhe:
- Corissa ,
preste atenção no que o papai irá dizer: haja o que
Houver,
aconteça o que acontecer, se o papai e a mamãe não retornarem, nunca se deixem
levar pelos turcos, eles são muito, mas muito maus.
A
menina com os olhos encharcados de lágrimas, porém atentos ao
que
o pai lhe dizia, ouvia com atenção . – Lembrem-se, fujam, morram se for
preciso, atirem-se ao mar, mas não se façam prisioneiros! Beijou a filha e a depositou
no chão, - Voltarei logo!
- Elias,
muito obrigado meu amigo. – Disse Aristos , abraçando seu fiel e bom
companheiro. – Sei que zelará pela segurança de meus filhos.
- Aristos,
sabes que se voltares para sua casa e pegar o que
é
teu podes ser morto, sabes disto, não?
Elias então respondeu, com amargura e um
misto de ódio no olhar.
- Sei também que não posso deixar que
esses malditos turcos
façam
o que querem de nós, nossas terras, nossas mulheres , filhos. Ah! Isso não!!
Nem que eu tenha que morrer, que eu dê o
meu sangue! - Disse com raiva , os olhos amendoados brilhando de rancor, e empunhando as mãos, com força.
Despediram –se . Pois tinham
que se afastar dali antes que alguém os visse. Temiam pelas crianças, uma
menina com 7 anos, de olhos cinzentos e melancólicos, de pele branca e cabelos
muito claros. Franzina, porém saudável.
Dois garotos, Aristides, com 11 anos,
moreno claro e esguio de olhar sonhador,
já se sentindo totalmente
responsável pela irmã pequenina e indefesa, e o outro com idade de ir para a
guerra. Stavros, um belo rapaz de olhos escuros e profundos e também moreno
como o pai, beirava os dezesseis anos e sua intenção já era o de se alistar
junto aos aliados.
Os rapazes da sua idade já podiam se
alistar. Stavros já sabia disso,
pois
se informara em Smirna, mas apesar da vontade que tinha em se apresentar e ir à
guerra, porém seu pai nunca o deixara. Era só uma questão de tempo.
A irmã
mais nova agora chorava e o irmão do meio abraçava-a como se a quisesse protegê-la
, tentando acalma – la dizia:
- Não chore
neném! O babás e a mamã, logo voltarão e tudo ficará bem.
-
Vamos que o tio Elias nos chama.- Já mais
calma, porém
assustada,
a pequena agora corria junto aos irmãos
em direção ao tio que tinha muita pressa, pois urgia em esconder as
crianças num lugar seguro, junto à
praia.
Correram até
ao ancoradouro, um porto pequeno onde os pescadores da aldeia de Smirna, guardavam seus barcos. Como
também era um pescador, Elias sabia que ali era o melhor lugar para se esconder
as crianças que logo seriam órfãs, disso
ele tinha certeza.
Entre tantos
barcos, havia um já sem utilidade,
nem mesmo para os turcos. Pois se encontrava com pequenos buracos, e a
madeira já apodrecida pelo passar dos
anos, achava-se emborcado na praia. Era
perfeito, ninguém sonharia sequer em sequer em erguer um barco tão grande e
velho, carcomido pelo tempo. Conseguiu
com a ajuda dos meninos erguerem um pouquinho o barco que estava virado meio que de cabeça para baixo na areia .
– Prestem atenção! – Dizia então Elias às crianças
- Vocês entrarão aqui embaixo deste
barco velho e feio. Poderão se
abrigar
da chuva e do sol. Haja o que houver, mas por nada deste mundo deverão sair daqui! Ouviram? Se ouvirem
barulho, conversa, gente por perto, procurem manter-se quietinhos. Ficarão debaixo do barco como um esconderijo,
entenderam? – Os pequenos assentiram
assustados, como os olhos arregalados, mas já passando para debaixo do
barco. – Se quiserem ir ao banheiro,
façam aqui mesmo. Tem bastante espaço para voces. Creio que dá até para
engatinharem se precisar. Voltarei logo com alimentos e cobertores. Não saiam
daqui, até logo crianças.
- Tio
Elias, por favor não demore muito ? – Pediu a pequena.
Elias a
olhou com carinho e sorriu, dando-lhes adeus . Virou novamente o barco
emborcando- o para baixo. Esperava que
dormissem um pouco até que voltasse com os agasalhos. Elias falou-lhes
novamente pelas pequenas frestas do barco.
- Conseguem
respirar? Ari, Stavros? Respondam crianças. – Sim tio Elias, respondeu a
garota, só está um pouco gelado e úmido aqui dentro .
- Elias
despediu-se novamente, prometendo - lhes que voltaria logo.
Uma
chuva fina e gelada começara a cair. Elias corria em direção à aldeia. Temia
pelo seu amigo Aristos .